A obra de Solano Aquino se inscreve no que há de mais autêntico na tradição modernista da pintura abstrata, ao mesmo tempo em que a revigora com um gesto pessoalmente violento, radical e controladamente caótico. Numa época em que a arte frequentemente se submete às narrativas e à sociologia do objeto. Aquino, retorna aquilo que a pintura tem de mais específico: sua superfície, seu gesto e seu material.
Não se trata aqui de representação, mas de presença. Seus quadros não são janelas para o mundo, mas superfícies onde o mundo, ou melhor, o artista, imprime sua marca em tempo real — escancaradamente visível. Seguindo os passos do Action Painting consagrado por Pollock, mas recusando a diluição pós-moderna, Aquino tensiona o suporte como palco de uma ação pictórica que, embora impulsiva, não é arbitrária. Há método no gesto, há composição na explosão, há estrutura no aparente automatismo.
O que vemos não é apenas tinta, mas a prova da tinta em movimento. A tinta não representa algo exterior, ela se afirma como tal. Cada respingo, cada arraste, cada acúmulo é testemunho direto de uma ação que recusa mediação. Trata-se, pois, de uma pintura que não descreve, mas acontece. Nesse sentido, Aquino é fiel ao princípio modernista fundamental: a arte deve se voltar sobre seus próprios meios e problemáticas. E é justamente esse retorno ao essencial que paradoxalmente inaugura o novo.
A planitude do suporte não é negada, mas intensificada pela gestualidade. Ao invés de criar profundidade ilusória, o artista intensifica a bidimensionalidade com sobreposições que não simulam espaço, mas o colapsam. O espaço pictórico não se expande para dentro, ele pulsa à superfície. Essa pulsação, essa vibração tátil e ótica, é o que confere à obra sua presença irredutível. Ela não quer significar, ela quer ser.
Solano Aquino não nos entrega figuras nem narrativas. O que ele oferece é o drama do ato pictórico, o embate entre controle e espontaneidade, entre forma e energia, entre plano e gesto. Seu trabalho reafirma a pintura como um campo autônomo — não decorativo, não ilustrativo, mas inteiramente comprometido com sua própria lógica interna. É pintura sobre pintura, gesto sobre gesto, verdade sobre verdade.
Em tempos de excessiva discursividade, sua obra é um manifesto silencioso — mas estrondoso — em favor da experiência estética pura. A pintura aqui não fala, ela nos obriga a ver. E nesse ver, encontramos o gesto do artista, o tempo do fazer, a imanência do quadro. Em Solano Aquino, o Action Painting não é citação nem revival; é continuidade viva de uma pesquisa formal que ainda pulsa. E pulsa forte.